Ter argumentos para as nossas acções é bom. Receber argumentos é bom. Jogar com todos os argumentos e escolher os melhores é excelente e é ético. Mas o que é isto de ético? O que é a ética? É sobre isto que me apetece investigar e falar hoje.
Procurando no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea encontramos em primeiro lugar que a ética é "parte da Filosofia que se ocupa dos costumes, da moral, dos deveres do Homem; ciência que trata da ambivalência entre o bem e o mal e estabelece o código moral de conduta"; em segundo plano é um "conjunto de princípios morais e de conduta pelos quais se rege o indivíduo na sua vida ou no desempenho de uma profissão ou actividade".
"A ética ilumina a consciência humana, sustenta e dirige as acções do homem, norteando a conduta individual e social. É um produto histórico-cultural e, como tal, define o que é virtude, o que é bom ou mau, certo ou errado, permitido ou proibido, para cada cultura e sociedade. Dessa maneira, a ética é universal, enquanto estabelece um código de condutas morais válidos para todos os membros de uma determinada sociedade e, ao mesmo tempo, tal código é realtivo ao contexto sócio-político-económico e cultural onde vivem os sujeitos éticos e onde realizam suas acções morais"(1).
"O caminho da virtude é sempre possível. Enquanto o homem existir, tem ele a possibilidade de modificar sua conduta e imprimir direção diferente às suas ações. E todos os homens orientam-se na vida por um critério valorativo, conferindo assim um sentido pessoal em suas vidas"(2). Vejamos a prova do filósofo romano - prova que podemos livremente, com respeito pela sociedade, deixar de fazer o que fazemos. "Na antiguidade, um filósofo romano estava a discutir com um amigo que negava a liberdade humana e garantia que, para todos os homens, não há maneira de evitar o que fazem. O filósofo pegou no bastão e começou a dar-lhe pauladas com toda a força que tinha. 'Já chega, não batas mais!', dizia-lhe o outro. E o filósofo sem deixar de surrá-lo, continuou a argumentar: 'Não dizes que não sou livre e que quando faço uma coisa não posso evitar fazê-la? Pois então não gastes saliva a pedir-me que pare: sou automático'. Até que o amigo reconheceu que o filósofo podia livremente deixar de bater-lhe, e só então o filósofo deu descanso ao seu pau"(3). Serve de lição em casos extremos.
"A exigência ética fundamental, hoje, consiste em recuperar a possibilidade de reconstruir relacionamentos de comunhão com as pessoas e comunidades. Ética significa bem estar social e, com o desenvolvimento de geração após geração, os hábitos, costumes, enfim o modo de viver das pessoas muda, mudam também os conceitos e o novo paradigma que se faz da ética moderna hoje, é uma civilização cada vez mais desenvolvida intelectualmente, desenvolve-se também o seu poder de culto e a exigência torna-se cada vez mais constante em qualquer área que possa afetar o bem estar social, nisso o indivíduo e principalmente os líderes têm que assumir um compromisso para a melhoria da vida social. E assim será com o passar dos tempos, cada vez mais a sociedade se irá impor para que o indivíduo reveja seus conceitos..."(2).
O que é ética? "Ethos ética, em grego designa a morada humana. O ser humano separa uma parte do mundo para, moldando-a ao seu jeito, construir um abrigo protetor e permanente. A ética, como morada humana, não é algo pronto e construído de uma vez. O ser humano está sempre tornando habitável a casa que construiu para si. Ético significa, portanto, tudo aquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente para que seja uma morada saudável: materialmente sustentável, psicologicamente integrada e espiritualmente fecunda"(1).
Podemos definir ética como "o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto.
A ética encara a virtude como prática do bem e esta como a promotora da felicidade dos seres quer individual ou colectivamente, onde são avaliados os desempenhos humanos em relação às normas comportamentais pertinentes"(2).
A ética não é o mesmo que a moral. "A moral é a regulação dos valores e comportamentos considerados legítimos por uma determinada sociedade, um povo, uma religião, uma certa tradição cultural, etc. Há morais específicas, também, em grupos sociais restritos: uma instituição, um partido político... Há, portanto, muitas e diversas morais. isto significa dizer que uma moral é um fenómeno social particular, que não tem compromisso com a universalidade, isto é, com o que é válido e de direito para todos os homens. Excepto quando atacada: justifica-se dizendo-se universal, supostamente válida para todos.
Mas, então, todas e quaisquer normas morais são legítimas? Não deveria existir alguma forma de julgamento da validade das morais? Existe, e essa forma é o que chamamos de ética".
"A ética é uma reflexão crítica sobre a moralidade". Não é só teoria. "A ética é um conjunto de princípios e disposições voltadas para a acção, historicamente produzidos, cujo objectivo é balizar as acções humanas. A ética existe como uma referência para os seres humanos em sociedade, de modo tal que a sociedade se possa tornar cada vez mais humana"(1).
A ética é necessária e importante porque "tem sido o principal regulador do desenvolvimento histórico-cultural da humanidade. Sem ética, ou seja, sem a referência a princípios humanitários fundamentais comuns a todos os povos, nações, religiões, etc, a humanidade já se teria despedaçado atá à auto-destruição".
"A atenção constitui a base da ligação emocional, do romance, da paixão e consta que o verdadeiro segredo para uma boa relação está na atenção que dispensamos ao outro nas pequenas coisas do dia-a-dia". Revista Adolescentes - Manual para Pais, nº 24, pág. 84.
(1) http://www.unai.ada.com.br/etcal
(2) http://www.grandeminas.globo.com/unainet/etical
(3) SAVATER, Fernando. Ética para um jovem. Editorial Presença.
Publicação: Jornal Notícias de Cambra, 15 de Março de 2003, p. 3
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