sábado, 12 de março de 2011

Em tempo de reflexão: Rôge, a freguesia onde nasci

Nasci muito perto da Barragem Eng. Duarte Pacheco, num lugar designado por Quinta de Vila Nova - nome oral e encontrado em cartas de antepassados. Assim, naturalmente sempre serei de Rôge. Hoje, vejo esta freguesia à luz de Camões: «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, ... continuamente vemos novidades»! Entre almoços e jantares agradáveis, em vários lugares da freguesia, tomei conhecimento de situações que me desagradaram imenso, consequentemente eis a minha opinião.
A religião e política estão em destaque, a nível local e nacional. Cada vez mais uma paróquia atende ao meio social e político em que se insere. Muito bem! Eu pergunto, as pessoas já perceberam que não existem em si mesmas? Os acontecimentos sucedidos são simples: Função com os sons da Capela, Santa Helena da Cruz com os comentários contidos e Sandiães com a tradição mista. Desejo, sinceramente, que esta forma de pensar estranha do povo para no cruzeiro do adro da Igrja Matriz, onde - religião e política - tem o seu respectivo assento físico próximo. Meus senhores e minhas senhoras, não podemos ignorar que somos livres de professar uma religião e defender uma política, todavia, com respeito.
Vejamos, eu não fui livre na escolha da terra onde nasci mas sou livre na maneira de agir ao que me acontece. Isto passa-se com todos os seres humanos, de facto, podemos escolher o nosso comportamento, a nossa forma de vida, deixar de fazer o que está mal e, até enganarmo-nos. Também, os caprichos que temos não podem subjugar os outros. Note-se que o capricho é individual e só depende de nós próprios. Não podemos deixar-nos conduzir pelos caprichos dos outros.
Todos sabemos que a tradição já não é o que era há alguns anos atrás, na verdade a comunidade cristã sofreu mudanças e evoluiu, consequentemente é preciso ter novas atitudes mentais. No entanto, há sempre Homens que teimam em acções retrógradas como falta de comunicação, desrespeito, formas bruscas e explosivas de actuação, agressividade e egoísmo. Não pode ser, estamos no século XXI. A Igreja Católica em Portugal atenta à mudança, está a organizar a 4.ª Semana Social, dedicada ao tema: «Cidadania pessoal/responsabilidade colectiva», inserida no âmbito da moderna Doutrina Social da Igreja, que terá lugar no mês de Novembro, na Marinha Grande. Nós - povo de baptizados - somos a Igreja. Por esta razão, estarmos atentos e promovermos a cidadania urge na nossa terra.
Quem quer vencer com sucesso tem de acolher a responsabilidade, o profissionalismo, a cooperação, a harmonia, a fraternidade, a liberdade responsável, o espiritualismo vivido, o altruísmo e a transparência. Os Homens atentos ao que se passa à volta, esclarecidos pelos meios de informação (jornais, televisão, Internet, ou outros), conhecedores das realidades religiosas (locais, nacionais, europeias ou, até mundiais), de modo particular, os que frequentam os grupos cristãos e as Celebrações nos respectivos locais de culto aceitam as mudanças com uma resposta reflectida e positiva. Porque possuir alternativas ou mudar para melhor é urgente e necessário, num Mundo em transformação.
Aliás, qual é o problema de uma Celebração ser seguida de procissão e decorrer à tarde? De certeza que a Santa homenageada compreende. Veja-se, o caso da Sra. Maria que tem de preparar o almoço para os seus convidados; ela ficará contente, pois agora já pode ir à Celebração à tarde. Só vantagens boas e nós não aproveitamos? Agindo de má fé, não podemos ter a confiança de quem nos é superior. Ter connosco o nosso representante legal legítimo - ao qual devemos respeito - aberto a desempenhar as suas funções por direito e, realizamos uma procissão sem ele? O Programa Haja Saúde tem um slogan que se aplica muito bem aqui: «A Ignorância Prejudica Gravemente a Saúde».
Um sintoma emergente é a constatação de muita habituação às velhas rotinas, aos costumes existentes de outros tempos - isto pode significar algo doentio?! Primeiro como seres humanos e depois como cristãos podemos e devemos evoluir. Vamos melhorar os nossos comportamentos porque queremos viver melhor e alegres. No mês de Julho de 2001, teve lugar em Espanha o 21.ª Colóquio Europeu de Paróquias, divulgado pelo Semanário da Diocese do Porto - Voz Portucalense - de 1 de Agosto de 2001. Ele alerta que a paróquia tem «novas formas de estar no mundo e novas maneiras de fazer a Igreja»; a pessoa «possui uma riqueza que lhe é própria que o torna insubstituível. (...) Aceitar as diferenças é promover as iniciativas dos outros e a realização de cada um em vista de uma sociedade mais justa»; em síntese, «lembra que as comunidades paroquiais tornam visíveis, através dos seus membros e das suas actividades, o primado da dignidade da pessoa humana, a atenção aos pobres, o exercício do poder como serviço, o respeito do adversário e do inimigo, a abertura ao universalismo tal como uma realização da partilha e do destino universal dos bens.»(p.10).
Muitos tipos de poder (com base em dinheiro, medo, propriedades, ou respeito), de domínio, de reputação, de integridade são postos ao chão com a falta de urbanidade e assertividade das pessoas. Já vimos que todo o ser humano é livre em escolher a sua vontade. Assim, pensemos sempre antes de condicionar a liberdade e os valores do indivíduo, nosso semelhante. Recordemos que o Código Civil Português, editado pela Livraria Almedina, no art. 70.º, na primeira parte diz: «A lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade física ou moral
Tornemo-nos éticos responsáveis com uma moral de parceria na nossa evidência social e apropriemo-nos de uma ou outra deontologia profissional; por exemplo, eu sugiro a dos jornalistas por gosto à boa comunicação. Em alternativa, para quem gosta de cinema, saliento o filme Rumor Assassino de Davis Guggenheim, porque não só distingue uma notícia de um rumor como também deixa claro que na vida real a relação entre notícias e boatos pode ser muito perigosa.
Em tempo de férias, pensemos no que fazem as nossas mãos. Bons lazeres! CB


As mãos revelam-nos...
As mãos,
Poetas cantaram sua beleza misteriosa.
Artistas as desenharam em posições quase divinas.
Pensadores as entenderam no seu silêncio-mistério,
palavra-mensagem, eco-evangelho.
As mãos revelam-nos...
Mãos possessivas-cadeias de ferro, anéis de volúpia,
onde cada nervo é uma pulsação de posse.
Mãos amigas-fontes de alegria, gestos de amizade,
certezas de partilha.
Mãos crispadas, inimigas, egoístas,
Mãos punhais, onde cada contorno
revela ódio, mostra sangue, inventa mentiras.
Mãos de veludo, mãos fáceis, mãos-cera,
Mãos-luvas, espelhos de vida medíocre, inútil.
Mãos duras, calejadas, feias-belas, estampas
de suor e de pão cozido a sangue,
monumentos de fé no trabalho e na vida,
canções de charruas, ais de martelos, hinos de luta.
Mãos de criança, mãos adolescentes, mãos adultas.
Mãos-mistério, mãos-alma, mãos-cérebro,
Mãos-instinto, mãos-coração.
Com elas se mata e se vive!
Com elas se abraça e se apunhala!
Com elas se ama e se odeia!
Com elas se acaricia e se agride!
Com elas se reza e se blasfema!
Com elas se constrói e se destrói!
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
As tuas mãos são a tua alma.
O mistério da tua vida!

Mensagem retirada da 1.ª página do Boletim Mensal DESPERTAR - Informação e Cultura, n.º 14, de Fevereiro de 1972, redacção de Mafalda T. Pinho e direcção de João A. F. Guerra, edição do Conselho Paroquial dos Leigos, propriedade da Paróquia de Rôge.

Publicação: Jornal Notícias de Cambra, de 31 de Agosto de 2001, página 4.

Opinião crítica de José Peres, que felicito

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