sexta-feira, 18 de março de 2011

O sucesso do diálogo em diversidade social e cultural

As III Jornadas de Museologia sob a égide “Diversidade Cultural, um desafio museológico” ultrapassaram as minhas expectativas de qualidade. Com uma excelente organização e reputados oradores trouxeram a debate questões que inundam a todos no seu quotidiano, e nem sempre paramos para reflectir ou dar a reflectir. Não sendo nem trabalhando na área museológica sai mais “calórica” com a partilha de que todos temos a aprender uns com os outros infinitamente, que devemos estar abertos a outras culturas porque é enriquecedor, aprendemos e nos tornamos pessoas mais ricas congregando saberes em absoluto.
Vivemos o pluralismo e diversidade cultural de cidadania a cada momento nas nossas vidas porque embora a maior comunidade em Portugal seja a brasileira, existem em Portugal pessoas provenientes de mais de 150 nacionalidades o que é deveras impressionante. Somos um país de emigração. Como disse o Dr. Duarte Miranda Mendes (Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural) “a nossa massa humana é intercultural” e falar dela também é falar do combate ao racismo. Temos grandes referências mas muitas vezes nos “media” a nacionalidade não é o eixo essencial da notícia. Tende-se a confundir muitas vezes árvores com floresta.
Eis alguma miscelânea útil ao que eu chamo “universo de museus”. O que fazem? Mexem-se; conjugam esforços; jogam com iniciativas formais e informais; fazem parcerias; têm actividades; “tardes interculturais” sobre os mais curiosos, actuais e interessantes temas onde primariamente buscam testemunhos de rua como forma de suscitar o debate; convidam à reflexão; seguem estratégias de trabalho para todo o tipo de pessoas e especificidades “capitais”; elaboram projectos fabulosos, criativos e dedicados; seleccionam objectos, ideias próprias, práticas, jogos, itinerários, guias adequados ao momento; desenvolvem oficinas educativas, trabalhos no terreno, recreações históricas, figuração, narrativas; envolvem imaginários trabalhos de recolha; preparações multimédia, métodos de comunicação; Proporcionam visitas virtuais, conteúdos on-line; juntam finalistas, projectos, universidades e as mais diversificadas entidades; têm indicadores quantitativos e qualitativos; e, sem fim, estão cada vez mais centrados nos visitantes e na pessoa como centro da instituição. Basta ter participado em “Serralves em Festa! 20 Anos10” para sentir o universo museológico e suas dinâmicas contemporâneas.
Os museus são “artefacto social”. Podem actuar como “lugares de memória, descoberta, imaginação, criatividade”. Cada qual tem a sua missão que se constrói e constrói-se com os parceiros, com “pessoas recurso”. Tornar as coisas divertidas depende de nós próprios, daquilo que partilhamos e daquilo que nos é dado a partilhar - “ir ao Museu é divertido! Por isso quero ir mais vezes ao Museu”! Cada “ponto O” tem uma enorme rede de significados e sentidos possíveis para cada indivíduo. Existem múltiplas releituras. Não há “cristalização”. Há uma infinidade de possibilidades. Histórias que não se contam… Todo o museu é uma “construção humana”. Existem contextos críticos e mais vulneráveis que outros porém há sempre solução com abordagens de oficinas práticas e directas com as pessoas certas com conhecimentos transversais, até divertidas, de propósitos e senso comum para atingir o objectivo da sensibilização para o essencial que se pretende atingir, como dizia alguém no debate “para não sentir que estão no tal patamar”.
O maior motivo para visitar museus é a “aprendizagem”. As abordagens a determinadas idades são fundamentais. Por exemplo, falar de dinheiro aos 3 anos a uma criança é raciocínio matemático que perdurará ao longo de toda a vida com diferentes complexidades. Cada um constrói os seus próprios significados; É um pouco como a arte contemporânea que é contemporânea de quem a produz e também “fascinante mas extremamente subjectiva”.
Foi excelente também ouvir a filosofia das ideias quotidianas que nos fazem avançar na vida e na inovação de algo, como a simples ideia básica de tudo aquilo que constitui uma dificuldade nós podemos transformar num desafio. O talento não entra em crise! Admitir que precisamos de aprender, que erramos, reflectir as nossas práticas é o nos devemos propor fazer em qualquer campo. A referência ao eminente Bento de Jesus Caraça levou-me o pensamento às cadeiras e bancos da faculdade onde o “erro” era tão amplamente defendido. Ideal: buscar sempre melhoria contínua.
Ficar a saber que as “novas fábricas do século XXI são os call-centers” com requinte da sofisticação… dá muito que pensar, dando exemplo de “Vera Cruz”, uma apropriação de espaços cada vez mais evidente.
Agrada-me conhecer pela voz da Dra. Sofia Lopes (Museu do Oriente) que as minorias étnicas cada vez mais lavram terreno de direito. Por exemplo, o caso dos invisuais que tiveram contacto com objectos reais na exposição táctil “O Oriente na Ponta dos Dedos” que teve colaboração com a Biblioteca Nacional. A nossa realidade é muito estanque. Saber que na minha cidade americana preferida - Nova Iorque - os doentes de Alzheimer ou “acamados” vão ao museu é maravilhoso. Absolutamente formidável. Aqui pensamos nisso? Utopias bem consideráveis. Obrigada Professora Doutora Fátima Lambert (Escola Superior de Educação do Porto) por este olhar que desconhecia, ainda que muito futurista em Portugal, mas esperançoso sobre as patologias e velhice menos convencionais em que há quem ache que quase nada é possível. Incrementou ainda mais o conhecimento positivista de uma voluntária de terreno.
Adoro quando os clientes colocam boas questões, tais que me fazem procurar respostas em diferentes áreas técnicas e científicas. A consequência directa é que integramos e geramos conhecimento real ao nosso redor. Muito positivo! Haverá opiniões discordantes, até de querer mudar de assunto, especialmente aquelas que se agarram a ideias orais ou exemplos semelhantes sem fundamento científico actualizado. Note-se que mesmo na dita imagem de semelhança existem muitos argumentos. Como visitantes de museus ou, melhor, de qualquer instituição de qualquer índole, coloquemos boas questões! Criemos “impacto” profundo!!! Acho que já vi este filme numa sala de cinema do nosso país… Mais… Como o filme, também pode chegar a nossa casa o museu. Pode chegar à nossa Escola, Junta, Câmara, Centro Cultural, Biblioteca,... com eixos de exposições com propósitos definidos. Referia o Dr. José Gameiro (Director do Museu Municipal de Portimão) “mudanças de paradigma”… Compete-nos a cada um agir porque a “sustentabilidade de públicos é local”, diz a Prof. Dra. Alice Semedo, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. E remato com a Dra. Suzana Menezes (Museu da Chapelaria): “Digam-nos o que vocês precisam…”
Brilhante! Dra. Isabel Victor (Directora do Museu do Trabalho Michel Giacometti) a sua expressão “bilhetes postais no tempo” é divina porque adoro postais, agora já ultrapassados pelos e-cards… pois…”cidadão-cliente” eclético! Estamos no século da comunicação e há um problema enorme de incomunicabilidade… pais pensarem que os filhos não tem roupa apropriada para ir a um museu numa visita de estudo de escola já aconteceu num bairro x do nosso país, incrível, não faz muito sentido, não faz nenhum sentido para muitas pessoas com a minha abertura. “Isto é dramático”! No entanto ainda há muito quem pense que num museu só entram “instruídos”, “académicos”, … vêem o espaço como intimidador. A ignorância faz mal à saúde! Temos de nos apropriar e usufruir dos espaços. Criar e transmitir isto aos novos públicos é essencial. Muitas vezes as pessoas não vão porque não foi criada oportunidade. Tantas vezes está do outro lado da rua e não o conhecemos. Gostaria de conhecer o seu Museu Regional? Faça-o!
É banal dizer isto mas é um facto: todos temos alguma incapacidade em alguma coisa. Obviamente um somatório de coisas boas não muda as realidades mas persistir, persistir, persistir e criar o lastro desejado é alcançável. Foi um privilégio e prazer ter participado nesta nobre iniciativa do Museu da Chapelaria. Visitem museus, exposições, galerias! Muitas vezes as obras não têm que ter um significado. Parabéns à organização e às pessoas que fizeram das Jornadas uma realização memorável de diversidade.

Publicação: Blog pessoal CB, em 8 de Julho de 2009

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